
Todos os dias, antes de que os editores decidirem quais iam ser as notícias publicadas no jornal e que os repórteres entregassem seus escritos, meus companheiros e eu escapávamos rumo à cantina –eles para fumar, eu por um cafezinho– e, não preciso dizê-lo, o bate-papo transformava-se numa segunda natureza para nós.
Mais que temas de conversa eram os lugares comuns os que flutuavam no ar: as mães (como todas as mães do mundo) não falavam mais que de seus filhos, os desenhistas criticavam seus chefes e os demais queixavam-se de seus problemas de dinheiro ou do trânsito. E assim, nesta sucessão de tópicos tão fácil de predizer, chegamos ao favorito da maioria dos citadinos: a insegurança. Nessa ocassião cada quem narrou as suas experiências, algumas chocantes, outras (vistas a distância) engraçadas, mas eu nunca vou esquecer uma em particular.
Era a noite de um dia de escândalos políticos, por isso o encerramento da edição tinha se adiado demais e o protagonista desta história saiu até de madrugada –coisa comum pois se dedicar ao jornalismo é renunciar para sempre a um horário–. Seguindo a sua rotina foi caminho ao estacionamento, acendeu o automóvel e internou-se nas ruas do Centro. Tudo parecia normal até que, na avenida Bucareli, encontrou um semáforo em vermelho... de súbito escutou que a janela da porta esquerda do veículo explodía e sentiu que um sujeito o tirava do volante e o arremessava no assento traseiro, ao passo que outro indivíduo subia no banco da frente.
– Tranqüilo amigo, coopere e não acontecerá nada...
– Eu coopero, coopero – respondia com uma voz quebrada pelo nervosismo ao homem que conduzia, ao tempo que se apercebia da pistola do cara sentado ao lado dele.
Sobrepondo-se ao susto a vítima pensou que o mais inteligente era tentar de ser muito simpático com os malfeitores e ganharse a sua confiança, e começou a conversar com eles, como se estevesse com os paroquianos de um boteco. Entre papo e papo resultou que os três não só se criaram no mesmo povoado, senão que também eram torcedores do mesmo time de futebol... e esse foi o pretexto ideal para que as piadas iniciassem. No entanto o carro viajava sem rumo fixo.
– Você é muito legal, assim que vamos fazer o seguinte, dê-me tudo o que traga na carteira e acabou-se este negócio.
– Claro que sim! – exclamou o repórter um tanto incrédulo ao tempo que lhes entregava todo o dinheiro que carregava.
Mais tranqüilo ele congratulava-se de seu estratagema e achava-se muito esperto por ter manejado desse jeito a situação.
– E onde mora? Podemos aproximar-lo a sua casa se você quiser.
– Na Narvarte – respondeu ele já com fidúcia, pois seu plano tinha saído segundo o esperado e, além do mais, os assaltantes, em outras circunstancias, bem poderiam ter sido ótimos parceiros de farra.
E no meio da risadaria chegaram a um parque que ficava muito perto do apartamento do jornalista.
– Vê amigo como todo deu certo? O que vamos fazer é deixar seu automóvel dois quarteirões mais adiante por acharmos que você é muito bacana.
E foi aí onde o assaltado, sem pensar nas palavras nem as conseqüências, disse inoportunamente:
– Mas por favor feche bem as portas porque por aqui há muito desgraçado que só se dedica a roubar.
Os rostos dos ladrões mudaram, os sorrisos tornaram-se em sobrolhos franzidos e mais tardou meu camarada em enxergar seu erro que em ser lançado do carro de um tranco. E o veículo? Não apareceu nunca mais.
2 comentários:
Eu ja tinha falado para você que gosto muito do que você escreve. Não conseguí ler tudo para ver todos os problemas no seu texto, porém seguem algun detalhes
os desenhistas criticavam a seus chefe – criticar é um verbo que não precisa preposição
outras (vistas a distância) engraçadas, - - poderia também ter utilizado vírgulas em vez de parenteses
protelar é uma palavra de uso culto da linguagem, voce poderia ter utilizado a palavra adiar
ferradura -- s. f., aparelho de metal que, por meio de uma ou mais linguetas, e com auxílio de chaves, fecha portas, gavetas, etc. . O que você queria dizer menino era encerramento
saiu até a madrugada - - neste caso a preposição que pede o verbo é de
dirigiu-se ao estacionamento - - foi ao estacionamento
ruas do Centro - - porque você escreveu centro com c maiúsculo?
Todo parecia normal - - todo ou tudo?
Súbito - - tá OK só que o uso é culto... seria melhor usar de repente
Boleia - - por outro lado, Omar, esta palavra é de uso coloquial. Aqui poderia ter utilizado no banco da frente
– Tranqüilo amigo, coopere e não acontecerá nada... - - Nossa! Que ladrão mais educado... No Brasil o ladrão teria falado “desça filho da puta, se não te mato!”
com uma voz quebrada - - gaguejando?
ganharse - - ganhar não é reflexivo em português
e começou a charlar com ele - - conversar
Oi Omar! gostei muito da narração. É incrível cómo as coisas mas teríveis podem voltar engrassadas tempo depois.
Não tenho palavras para seu amigo...
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