sábado, outubro 15

Cuidado com os ladrões!


Todos os dias, antes de que os editores decidirem quais iam ser as notícias publicadas no jornal e que os repórteres entregassem seus escritos, meus companheiros e eu escapávamos rumo à cantina –eles para fumar, eu por um cafezinho– e, não preciso dizê-lo, o bate-papo transformava-se numa segunda natureza para nós.

Mais que temas de conversa eram os lugares comuns os que flutuavam no ar: as mães (como todas as mães do mundo) não falavam mais que de seus filhos, os desenhistas criticavam seus chefes e os demais queixavam-se de seus problemas de dinheiro ou do trânsito. E assim, nesta sucessão de tópicos tão fácil de predizer, chegamos ao favorito da maioria dos citadinos: a insegurança. Nessa ocassião cada quem narrou as suas experiências, algumas chocantes, outras (vistas a distância) engraçadas, mas eu nunca vou esquecer uma em particular.

Era a noite de um dia de escândalos políticos, por isso o encerramento da edição tinha se adiado demais e o protagonista desta história saiu até de madrugada –coisa comum pois se dedicar ao jornalismo é renunciar para sempre a um horário–. Seguindo a sua rotina foi caminho ao estacionamento, acendeu o automóvel e internou-se nas ruas do Centro. Tudo parecia normal até que, na avenida Bucareli, encontrou um semáforo em vermelho... de súbito escutou que a janela da porta esquerda do veículo explodía e sentiu que um sujeito o tirava do volante e o arremessava no assento traseiro, ao passo que outro indivíduo subia no banco da frente.

– Tranqüilo amigo, coopere e não acontecerá nada...
– Eu coopero, coopero – respondia com uma voz quebrada pelo nervosismo ao homem que conduzia, ao tempo que se apercebia da pistola do cara sentado ao lado dele.

Sobrepondo-se ao susto a vítima pensou que o mais inteligente era tentar de ser muito simpático com os malfeitores e ganharse a sua confiança, e começou a conversar com eles, como se estevesse com os paroquianos de um boteco. Entre papo e papo resultou que os três não só se criaram no mesmo povoado, senão que também eram torcedores do mesmo time de futebol... e esse foi o pretexto ideal para que as piadas iniciassem. No entanto o carro viajava sem rumo fixo.

– Você é muito legal, assim que vamos fazer o seguinte, dê-me tudo o que traga na carteira e acabou-se este negócio.
– Claro que sim! – exclamou o repórter um tanto incrédulo ao tempo que lhes entregava todo o dinheiro que carregava.

Mais tranqüilo ele congratulava-se de seu estratagema e achava-se muito esperto por ter manejado desse jeito a situação.

– E onde mora? Podemos aproximar-lo a sua casa se você quiser.
– Na Narvarte – respondeu ele já com fidúcia, pois seu plano tinha saído segundo o esperado e, além do mais, os assaltantes, em outras circunstancias, bem poderiam ter sido ótimos parceiros de farra.

E no meio da risadaria chegaram a um parque que ficava muito perto do apartamento do jornalista.

– Vê amigo como todo deu certo? O que vamos fazer é deixar seu automóvel dois quarteirões mais adiante por acharmos que você é muito bacana.

E foi aí onde o assaltado, sem pensar nas palavras nem as conseqüências, disse inoportunamente:

– Mas por favor feche bem as portas porque por aqui há muito desgraçado que só se dedica a roubar.

Os rostos dos ladrões mudaram, os sorrisos tornaram-se em sobrolhos franzidos e mais tardou meu camarada em enxergar seu erro que em ser lançado do carro de um tranco. E o veículo? Não apareceu nunca mais.

2 comentários:

rtr disse...

Eu ja tinha falado para você que gosto muito do que você escreve. Não conseguí ler tudo para ver todos os problemas no seu texto, porém seguem algun detalhes

os desenhistas criticavam a seus chefe – criticar é um verbo que não precisa preposição
outras (vistas a distância) engraçadas, - - poderia também ter utilizado vírgulas em vez de parenteses
protelar é uma palavra de uso culto da linguagem, voce poderia ter utilizado a palavra adiar
ferradura -- s. f., aparelho de metal que, por meio de uma ou mais linguetas, e com auxílio de chaves, fecha portas, gavetas, etc. . O que você queria dizer menino era encerramento
saiu até a madrugada - - neste caso a preposição que pede o verbo é de
dirigiu-se ao estacionamento - - foi ao estacionamento
ruas do Centro - - porque você escreveu centro com c maiúsculo?
Todo parecia normal - - todo ou tudo?
Súbito - - tá OK só que o uso é culto... seria melhor usar de repente
Boleia - - por outro lado, Omar, esta palavra é de uso coloquial. Aqui poderia ter utilizado no banco da frente
– Tranqüilo amigo, coopere e não acontecerá nada... - - Nossa! Que ladrão mais educado... No Brasil o ladrão teria falado “desça filho da puta, se não te mato!”
com uma voz quebrada - - gaguejando?
ganharse - - ganhar não é reflexivo em português
e começou a charlar com ele - - conversar

Mafaldinha disse...

Oi Omar! gostei muito da narração. É incrível cómo as coisas mas teríveis podem voltar engrassadas tempo depois.

Não tenho palavras para seu amigo...