quarta-feira, outubro 5

A chuva não para...


A chuva é um estado de ânimo, pelo menos para mim, pois, quando começa a chover, muda o curso do meu pensamento e as minhas sensações alteram seu andar. E é que a chuva, como os estados de ânimo, vem a interromper o cotidiano e a resgatar-nos do tédio do dia-a-dia.

Mesmo se falamos de um chuvisco ou de uma bátega, com o tamborilar das gotas uma cidade tão cinzenta como esta adquire novas cores... as ruas sempre grises transformam-se em espelhos pretos que refletam o brilho das lâmpadas de iluminação pública, e os guarda-chuvas tornam-se cogumelos andantes que se multiplicam e ameaçam com invadir, permanentemente, parques e praças.

E por um momento só a realidade presenta-se ligeramente diferente, os meninos fazem das poças mares por onde sulcam barquinhos de papel ou pistas para chapinhar (bom, isso é o que eu fazia); as tonalidades do nosso meio circundante são mais cordiais, e o céu resulta um obséquio para os improváveis espectadores: muito mais azul se é de dia, muito mais estrelado se é de noite.

E assim, neste ânimo, penso na minha vida, nas coisas perdidas e recuperadas, nas que se foram e em aquilas que, como a chuva, sempre regressam. Então, nesta saudade cada vez mais agradável, abro as portas de onde estiver com a finalidade de deixar entrar o cheiro a terra molhada e ar fresco e as vezes escrevo, como estou fazendo agora, enquanto fora da minha janela cai a noite e a chuva não para.

Um comentário:

Marquinhos dos Quadrinhos disse...

Corrijo: O Omar é mesmo escritor! (eu escrevi o meu primeiro post antes de ler "A cuva não para..") Parabéns para você. Você deveria cobrar-nos por ler os “posts” de você.