quarta-feira, novembro 23

Uma Genese Violenta

Terceira Parte – Diálogo na escuridade

Há uma hora

Alemanha, Sexta-feira 31 de dezembro de 1999.

A escuridade no dormitório não era problema para Floresta. Via perfeitamente, embora nesta vez desejasse não ter sentidos tão agudos. Mal podia acreditar aquilo que via. ‘Como pode ser ? Minha mãe nunca erra.’ Mas aí estava. ‘Um erro da Natureza? Não pode ser ainda que pareça.’ A unica risposta era ainda mais dificil de aceitar. ‘Uma morte anti-natural? Alguma vez ouvi, mas não o achei possível...acreditava-o uma simples legenda, embora o único ser capaz de algo assim era...’ A voz do Barão cortou os pensamentos dela. ‘Agora compreende?’ A voz dela soou por primeira vez hesitante, com duvida. ‘Compreendo, sim. Mas não o acredito...o corpo do menino está em perfeitas condições! Não tem feridas, nem batidas, nada. Nem sequer percebo substâncias venenosas nele.’ A face do Barão tornou-se ainda mais séria, como se tivesse desejado não ter conferido o resultado que ele já descobrira. ‘Exatamente, cara Floresta. O corpo do meu filho está em ótimas condições. O organismo dele todo está perfeito. Com tudo, ele está morto. Por isso encerrei-me aquim. Era preciso um analise sobrenatural em todos os espectros.’

A incomodidade de Floresta acrecentou-se. Ela sabia como resolver problemas naturais, mas coisas que ultrapassassem as regras dispostas pela mãe dela, ela as odiava. ‘E você já descobriu alguma coisa?’ Von Ruler ficou silente uns instântes. Uma horrível sensação quase não lhe permitia falar. ‘Descobri, sim. Desejava que estivesse errado, mas é a única explicação possível.’A voz dele soava trêmula, vacilante. Por um momento hesitou em falar para ela, mas era preciso. ‘A própria alma dele foi lhe extraída’.

A surpressa e a incredulidade apareceram na face de Floresta. Mal podia acreditar. Porém, por esquisito que soasse, concordou que era a única explição possível para tão raro sucesso. ‘Não acreditava isso possível’. Uma dor grande percebiu-se na voz do Baráo. ‘É, cara Floresta, é. Para alguém suficientemente poderoso e perverso, é possível.’

Agora era o medo o que se apoderava dela, pois essa pequena e simples descripção somente podia pertencer a um só ser e conferiu o que já suspeitara. ‘Esta falando daquele monstro?’. O barão assentiu com um movimento de cabeça ‘Com certeza...Chy-maal le Terrible, o nosso maior nemigo, voltou. E nesta oportunidade ganhou.’

Os maiores temores de Floresta estavam-se tornando verdade. A primeira coisa que pensou foi que iam precisar ajuda. ‘Você quer que faça saber a Lord Markus?’ A súbita risposta do Barão a surprendeu. ‘Quero não. Lord Markus tem outras preocupações.’ Floresta insistiu ‘Mas ele tem grande estima por você. Você mesmo baptizou o menino Mark como homenagem para ele.’ A risposta do Barão gelou-lhe o corpo. ‘A vingança é pessoal. Não me interessa se eu morrer, esse monstro não seguirá existendo’. E por um momento, o silêncio voltou reinar na escura estância do Castelo.

Um comentário:

Omar Páramo disse...

Marquinhos! Fiquei muito surpreendido com seu escrito pois eu imaginei que uma parte transcorria no pasado (no século XIV, num palácio de Baviera), e a outra no ano 2000 (em Brasil)... até agora não compreendia que você falava de situações simultâneas.

Acho muito interessante o que você está fazendo, mais que tudo a contraposição entre o continente americano e o européu, e o relato científico, dogmático e o que poderia ser um conto de fadas... mais é melhor calhar porque é muito provável que na sua próxima postagem surpreenda-me de novo.

Parabens, e eu já espero o seguinte capítulo...